Resumo:
“Desafinado” é o que não está afinado ou o que perdeu a afinação, o dissonante, o destoante. É claro que estamos discutindo esse tema porque buscamos tocar cada vez mais em harmonia no que se refere à educação, sem que haja sons destoantes entre comunidades, empresas e governos. Esse é o nosso propósito ao apontar obstáculos a essa harmonia e também discutir as possibilidades de tocarmos todos juntos, afinados.
Inicialmente gostaria de dizer que há pouca pesquisa, pouca literatura, sobre o tema. Há mais referências sobre a relação entre escola e comunidade do que em relação à empresa. O Documento de Referência da CONAE (Conferência Nacional de Educação), que foi realizada no final de março, em Brasília, fala da participação da comunidade no projeto da escola, aponta, no artigo 61, a necessidade de criar mecanismos democráticos de gestão que assegurem a participação da comunidade particularmente nos conselhos escolares. Entretanto, o mesmo documento, quando fala da empresa, destaca apenas problemas e aspectos negativos, como no artigo 161 - “extinguir, ainda todas as políticas aligeiradas de formação por parte de empresas, por apresentarem conteúdos desvinculados dos interesses da educação pública” - e no artigo 287QQQ: “redirecionar imediatamente os recursos do MEC, que atualmente são orientados a sistemas
e a setores empresariais para as esferas públicas federal, distrital, estadual e municipal”. No artigo 2791, afirma-se a necessidade de “desenvolver políticas e ações que contribuam para o enfrentamento do racismo nas empresas”. Educação brasileira e empresa estão, sim, “desafinadas”.